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Excelência perdida

Do sonho da criação de um Centro de Excelência em Joalheria à falência da Zona Franca de Manaus

Disso surgiu a Zona Franca de Manaus, pelo Decreto Lei Nº 288/1967. Para se instalar, as indústrias não teriam qualquer incentivo. Entretanto, uma vez instaladas, receberiam isenção de vários tipos de impostos: de importação, de exportação; sobre produtos industrializados (IPI) e do ICMS; de IPTU, da taxa de licença para funcionamento e da taxa de serviços de limpeza e conservação pública

Analisando o início da história da joia no Brasil, nota-se que a maioria dos joalheiros que construiu seu negócio e se estabeleceu no país, veio de outras áreas de trabalho, especialmente do comércio, mas, também, da ourivesaria e lapidação. Viram nas joias e sobretudo nas gemas brasileiras e no ouro, a possibilidade de negócios e riqueza. 

Nomes como Valentin Geyer, originário da cidade de Alsácia na França, que ainda muito jovem mudou-se para São Leopoldo, no Rio Grande do Sul onde aprendeu o ofício de ourives e, quando adulto inaugurou sua primeira loja – Casa Masson, em 1826.

Luciano Tadini, cuja ligação com a joalheria começou na infância, nas visitas à oficina de seu tio, onde adquiriu o interesse pelo oficio. Fez diversos cursos ainda na Itália e, ao chegar ao Brasil, no início de 1951, já era um conceituado profissional joalheiro.

Apenas alguns nomes como exemplo do complexo início da história da joia brasileira. O que pretendo contar a seguir é a trajetória de Beno Zucker, que além de uma vida cheia de aventura e sucesso, era ourives de alta joalheria, conhecimento adquirido na Romênia. Quando chegou ao Brasil, em 1957, já havia adquirido conhecimento industrial na Itália. Escolheu a rua 25 de Março para instalar sua fábrica, com estampos trazidos da Itália. 

O Brasil apresentava industrialização concentrada na Região Sudeste. Disso surgiu uma ideia para estimular e promover a integração produtiva e social da Amazônia, e também, atrair contingente populacional, pois a Região Norte apresentava grande vazio demográfico, e, ainda, a necessidade de ocupá-la, para assegurar a soberania do território amazônico. 

Disso surgiu a Zona Franca de Manaus, pelo Decreto Lei Nº 288/1967. Para se instalar, as indústrias não teriam qualquer incentivo. Entretanto, uma vez instaladas, receberiam isenção de vários tipos de impostos: de importação, de exportação; sobre produtos industrializados (IPI) e do ICMS; de IPTU, da taxa de licença para funcionamento e da taxa de serviços de limpeza e conservação pública.

Nas férias de dezembro de 1967 Beno foi para Manaus. Apesar de todas as vantagens, a Zona Franca de Manaus poderia prejudicar as demais indústrias do país. Um grupo da Fiesp se opôs fortemente, para que não se concretizasse a Lei 288. Estipularam o prazo de um ano para que alguma indústria lá se instalasse, para que a lei “vingasse”. Em dezembro restavam apenas algumas semanas para o termino do prazo estipulado e nenhuma empresa havia se instalado em Manaus. 

Beno tinha muita experiência com a indústria de joias Alpha, de São Paulo e, com ela, fez o projeto da Beta de Manaus.

A indústria teve os melhores e mais modernos equipamentos. Importava-os em tempo recorde da Suíça e Itália. Tudo com seu próprio capital. 

Depois de muitas adversidades com a Superintendência da Zona Franca de Manaus e, muito revoltado, recorreu ao governador Danilo Duarte de Matos Areosa quando ficou sabendo ter sido o único a ultrapassar a barreira SUFRAMA, conseguindo chegar ao governador, que apoiou o projeto e imediatamente o aprovou. Mas, para validar tudo e salvar a existência da Zona Franca de Manaus, ainda faltava o lugar da fábrica; e o tempo estava acabando. No Tabelião, registrou a Beta – Indústria de Joias e Relógios. Encontrou e comprou um prédio em construção, com a promessa de recebê-lo pronto a tempo. Estava feita a Zona Franca de Manaus! 

Pedra fundamental Zona Franca de Manaus
Vista aerea Zona Franca de Manaus

A indústria teve os melhores e mais modernos equipamentos. Importava-os em tempo recorde da Suíça e Itália. Tudo com seu próprio capital. Da Alpha, de São Paulo, chegaram 15 funcionários, mas a indústria contratou 1500 pessoas da região. A ideia de Beno era ajudar a transformar Manaus em um Centro Mundial de Joias e Relógios e isso estava acontecendo. Aberto o caminho, após a Beta, logo a Duque se instalou com sucesso em Manaus, e seguiram-se outras indústrias, até que, no início dos anos 1980, um novo chefe da Suframa introduziu novas regras e leis que inviabilizavam a continuidade da empresa e tudo que representava. O final dessa história foi o infarto de Beno, a venda da Beta e mais uma oportunidade perdida de ter no Brasil um Centro de excelência em joalheria.   

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Por Eliana Gola – @elianagola
Autora do livro “A Joia: História e Design”, ela é formada em Artes Plásticas pela FAAP e também é especialista em Design Gráfico e mestre em Design – Desenvolvimento de Produto pela FAU-USP. Complementou seus estudos em design de joias e joalheria no Istituto Lorenzo di Médici, em Florença, IT. Atualmente é professora na Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP, e também atua como designer e consultora.

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